31/12/13

novo ano, não sei se nova pessoa

já fiz planos, resoluções de fim de ano e promessas. poucas - ou raras - saíram como esperava, queria e gostava. este ano é um pouco diferente. não faço promessas, mas quero estabelecer metas e objectivos. quero manter-me próxima delas e, caso a vida me dê a volta, que seja para melhor, para me surpreender. que me obrigue a lutar mais e melhor por aquilo que quero e espero tudo de bom para mim e para quem gosto. 
já liguei demasiado a quem me magoou, já me enganei para desculpar quem falhou comigo e até já desejei bem a quem muito mal me desejou e fez. vou aprendendo, a bem e a mal, e espero que essas pessoas tenham as consequências na proporção que fizeram mal a alguém e nunca mais tiro de mim para lhes dar. 
não sei se sou uma boa pessoa, não sei se mereço o bom que tenho, mas sei que trabalho para ser e ter mais e melhor. quero por perto quem me quer por perto e sei que exijo muito, porque dou sempre (quase) tudo de mim a quem gosto e acho que merece. algumas vezes erro e aceito que continue a acontecer. foi um ano de merda - utilizando as palavras mais positivas - em vários pontos, mas o primeiro objectivo para o ano é ser mais positiva. só ainda preciso de descobrir primeiro se sou pessimista ou se realidade é uma bosta. o mais provável é que não vá fazer mais exercício, não vá comer menos batatas fritas e não seja a mesma coração de manteiga que sei que não consigo mudar. o mau feitio também não, que não haja ilusões! mas desejo saúde, amor, trabalho e dinheirinho no bolso! bom ano para (quase) todos.

14/11/13

160º

bem, então é esquecer tudo o que escrevi abaixo, certo?

desabafos

não é como se nunca to tivesse dito. como se alguma vez tivesse deixado por dizer alguma coisa. ou como se tivesse mudado de ideias e tenha que, de novo, dizer o que sinto de novo.
(na cama à noite muita coisa me passa pela cabeça.)
nunca sei por onde começar, mas aqui vai.
as coisas que mais tinha medo eram que me deixasses, que perdesses o medo de me perder e que, caso isso acontecesse, passasses a estar bem sem mim.
eventualmente aconteceu - não tiveste medo de me perder quando foste tu a dizer que não querias mais.
quando começámos a estar juntos eu estava certa de mim e quase tão certa de ti. não lembrava ou até sabia o que era isso; o que era confiar tanto de novo em alguém que conseguia meter as mãos no fogo por ela. nunca me passou pela cabeça que isso me iria acontecer. tinha prometido a mim mesma que não estaria de novo com alguém que não me fizesse sentir segura, que me fizesse pôr em causa o que sou e sou capaz. mordi a língua contigo e prometeste-me dar motivos para o continuar a fazer, nem sempre da mesma forma mas da melhor forma que podias. aceitei e atirei-me de cabeça, coração, tudo meu. dei-me de tal forma que nunca me passou pela cabeça pôr-me/te/nos em causa na mínima coisa que fosse. sentia que éramos só nós, que chegávamos, que nos fazíamos felizes e mais ninguém era tão importante. não sei bem como nem porquê comecei a perder o equilíbrio, a confiança (em mim), a estabilidade, a inocência, a força e coragem, a auto-estima e auto-controlo. passei a dizer tudo o que me vinha à cabeça, mesmo sabendo que nem tudo era verdade ou sincero. que eventualmente ia magoar um de nós ou até os dois. comecei a sentir-te diferente, distante, reservado de uma forma que te pedi sempre para não seres comigo. vi coisas que não gostei e me magoaram - coisas que me fizeram acabar relações antes. deixei de ver coisas que me faziam sentir bem, que gostava e que, de certa forma, precisava por me ter habituado a elas.
não consigo aceitar que digam que Os primeiros anos são sempre lindos, depois é sempre a decrescer! como se nós também tivessemos um prazo de validade.
de qualquer das formas parece que tivemos o nosso prazo de validade. chegou a um ponto que não quiseste mais, que disseste que não aguentavas mais, que estavas magoado, que as coisas precisavam de tempo e que poderiam ter ou não volta a dar. eu nunca deixei de acreditar que daria certo de novo, mas não da mesma forma.

não quero, aceito ou mereço menos do que tivemos. não penso que tenha que ser da exacta mesma forma, mas sim com o mesmo conteúdo. não quero menos amor, menos atenção, menos vontade, menos esforço. se for para isso quem não quer sou eu. eu acredito demasiado em nós e em ti para achar que nos devemos ficar pelo mediano. eu posso ter um trabalho mais ou menos, roupa mais ou menos ou sair mais ou menos, mas eu não aceito nem mereço amor nem amar mais ou menos, viver contigo mais ou menos, sentir mais ou menos ou sentir que só me dás mais ou menos segurança. eu sempre (!) te dei as maiores certezas do que sentia, fiz sempre um esforço para que nunca te faltasse nada, que em momento algum duvidasses do que sentia, do que queria para nós e contigo; para nunca te sentires inseguro. sei que falhei em alguns pontos de confiança e segurança, mas tem razões dos dois lados. falhaste comigo também. ambos falhámos e acho que ambos já percebemos isso. honestamente não me interessa apontar o dedo a nenhum dos dois. se quero estar contigo é porque quero mudar isso.

eu quero que me queiras muito, que me ames, que não me tenhas como dado adquirido, que me demonstres isso tudo - não quero da mesma forma que eu, mas quero uma tua que me faça sentir bem. não me importa se é falado, escrito, sinais de fumo, letras de música, filmes, cartas e postais. não me importa se preferes dizer-me as coisas no escuro por te sentires à vontade. não me importa se preferes escrever à mão, à maquina, por skype. não me importa a forma como o demonstras, só quero sentir que é teu, é da tua vontade, do teu amor. quero (e preciso) de equilíbrio. aceito todas as tuas formas de me dizer as coisas, as mais banais às mais profundas e obscuras. aceito tudo teu, sempre te disse. seja de que forma for. mas uma coisa eu quero deixar clara: eu quero equilíbrio. porque se há coisas que não me importo que me digas no escuro, a chorar, aos berros, porque tens vergonha, medo (...), também quero que haja coisas que me digas na cara, nos olhos, a apertares-me contra ti e me dês força. quero que te abras comigo. quero que morras de medo de algo e mo digas, quero que tremas por dentro por te fazer falta, que me digas se estás frustrado, chateado, triste, angustiado, QUALQUER coisa. mas mo digas. eu aceito que não queiras falar com ninguém durante esses momentos mais negros, mas quero que, depois, te sentes ao pé de mim e te abras comigo, que me ajudes a ajudar-te, que saibas e queiras que eu faça parte de ti. eu estou sempre ao teu lado, sempre que precisares.

estamos num momento difícil. foi uma distância estranha, à qual não me consegui habituar nem sequer compreender. é uma distâcia que nos fez perder partes de cada um, que nos fez, de certa forma, desligar de grande parte do dia-a-dia do outro. uma distância que me arrepia e mói saber que nunca vou estar a par do que verdadeiramente aconteceu. de quem conheceste, do que fizeste, em quem tocaste ou te tocou, o que pensaste e sentiste. é como se este tempo tivesse sido um buraco nas nossas vidas. não sei se é suposto recuperá-lo, mas não quero que ele nos engula. quero que me faças sentir segura, não ter medo. não ficar a pensar que algo se passou e que eu nunca saberei. não quero que ele nos derrote ou enterre. é uma oportunidade de nos renovarmos, de nos (re)conhecermos, mas preciso do teu lado também.
sou egoísta, sim. quero ser especial, única e A. não aceito metades nem mais ou menos, já disse. não quero pedir nem exigir-te nada, quero que faças e digas por ti. quero que me relembres do pulso firme de És minha, Quero que sejas minha. quero que relembres dos teus ciúmes, das tuas brincadeiras e até inseguranças. não quero que sejas inseguro - eu amo-te mais do que alguma vez amei alguém -, só quero que me mostres que és como eu, que realmente és feito da mesma matéria que eu. não te quero sempre mauzão, durão e forte. eu sei que falhas, que quebras, que tens momentos negros. não me importa a quantidade nem a forma, importa-me que o partilhes comigo. quero que me fales de tudo (!) o que te venha à cabeça - planos do dia-a-dia até a parares para reflectir sobre o futuro ou a nossa essência. quero que reconheças o meu valor e me saibas traduzi-lo por palavras. quero que saibas porque gostas de mim e não porque te habituaste a isso. quero que me digas o que te interessa em mim, o que te faz querer estar comigo, o que não gostas, o que precisas de mim. quero tanto que conversemos como que saibamos estar em silêncio (de preferência abraçados com música).

quero de novo virar-nos para nós. para as nossas coisas, questões, medos, planos, falhanços. quero tudo o que há para termos. sem nos esgotarmos. quero ir com calma de novo, mas quero sentir a emoção, a tesão, a força, a energia e a vontade. quero sentir-te seguro, forte e apaixonado. quero-te todo, quero que me queiras toda.
não volto a dizer-te constantemente que quero e preciso da tua atenção, quero que seja natural. quero que saibas que compreendo a diferença entre focares-te na faculdade/cansaço e a óbvia falta de interesse e paciência. não aceito mais os cansaços que não te tiram a vontade de me abraçar espontaneamente, de me fazer festas no cabelo e dizeres o quanto me achas bonitas e me amas. isso é cansaço de falta de vontade. o cansaço normal só te faz dormir mais, não te tira a força das palavras de me dizeres Estou cansado, mas quero dormir ao teu lado. percebes a diferença?

quero começar de novo, já disse isto, não já?
quero as nossas bases, a nossa força, a nossa energia, o nosso mau feitio, as nossas picardias e o nosso amor.
mas quero renovar o que está de fora. não me importa com quem falas, mas que nunca volte a sentir que as outras pessoas têm mais da tua atenção em algumas coisas do que eu, que falas de certos assuntos que não falas comigo, que não os puxas comigo sequer. não quero sentir que comigo és o verdadeiro e com as outras pessoas mostras o charme de uma pessoa que queres ser. sou egoísta ao ponto de dizer que não quero que as outras pessoas tenham o mesmo de ti que eu tenho, porque ninguém tem, para mim, o que tu tens de mim. não há partilhas que faça com alguém que não faça contigo, que te procure para fazer. seja espontâneo, seja porque me lembrei, seja por que motivo for. que eu não dê por mim a pensar que algo em mim me falha e que, por isso, precisas de procurar noutras pessoas. não me mintas - omissão também é forma de mentira. não tenhas medo de me dizer a verdade. com certeza ela vai ser menos dolorosa do que a minha suposição das coisas.

disseram-me que eu tenho que aceitar que tenhas outras pessoas que, por serem diferentes de mim, te vão preencher mais do que eu. que tenho que aceitar que acontece com toda a gente, porque não há ninguém verdadeiramente completa e que seja perfeita ao ponto de saber/fazer tudo de tudo. que eu tenho que aceitar que vais ter sempre alguma amiga por quem te sentes atraído (seja mental ou fisicamente), que nunca mo vais dizer porque achas que me vai magoar e que é desnecessário, porque não vais querer deixar de estar comigo por isso. que eu tenho que aceitar que nunca vou ser boa suficiente em tudo o que gostas em alguém, vai haver sempre alguém para além de mim. disseram-me que tinha que aceitar que ias sempre ter alguém sobre a qual não me vais dizer a verdade sobre a tua verdadeira relação com ela, que vão ser sempre Só amigas. que nunca vais admitir que pensas nelas ou que tens saudades delas, que tens momentos em que sonhas com elas, que as imaginas em determinados momentos, incluindo ao pé de ti no teu dia-a-dia. que, de certa forma, as desejas. cada uma à sua maneira e pelos seus motivos, mesmo que nunca seja um desejo tão grande quanto o que tens por mim, mas que desejas estar com elas, partilhar as coisas com elas, aventurares-te com elas. e que eu nunca irei saber. que se eu nunca aceitar isso nunca vou viver nem te deixar viver. queria saber a tua opinião sobre isto.

Só precisas de confiar em mim. não é só isso. a confiança não vem só de palavras, comodismos ou exigências. a confiança vem de actos, de provas, de atitudes, de demonstrações. (as tais que não peço que sejam como as minhas, mas que me façam sentir segura.)
quero que confies em mim, claro, mas também quero que me questiones, me encostes à parede e me enfrentes, que tenhas medo. (tenho sempre na cabeça que medo de me perder é coisa que não tens e que não sei como voltar a sentir que isso tem importância para ti.)
(de novo: ) sei que não és nenhum robot, mas quero que te mostres humano. quero que tenhas feridas também, quero que mas mostres. quero que uses as palavras, elas existem para isso. sempre soubeste expressar-te tão bem comigo e parece que me sinto inibida para te pedir de novo para o fazeres. eu não tinha que o pedir sequer.
dá para perceber o quão natural eu queria que as coisas voltassem a ser? o quanto quero tanto estar contigo que quero que a nossa comunicação seja a melhor possível?
parece que estamos a passar a fase mais difícil e que nunca mais vem a parte boa, que é só testes, dificuldades e desafios e que parece que tudo se torna muito mais difícil à distância e a ter que escrever. mas é a nossa única forma. achas que é possível ainda assim? estás disposto a tentar? amas-me mais do que o suficiente para isto?

eu sou uma pessoa difícil, bem sei. consigo ser insuportável, bem sei. sei que é preciso muita paciência e amor para me aguentar em alguns momentos. mas eu não sou só isso. eu não sou só as tais nuvens negras. eu não sou só estas fragilidades, estas perguntas, estes medos e inseguranças. eu só quero que saibas que se me abro a ti para mostrar o meu lado mais feio, também quero que me ames o suficiente para te dar o meu lado mais bonito. que saibas que, descabelada ou não, Eu sou Eu. eu dou o melhor que tenho de mim, faço o melhor que sei, amo-te o mais que posso, cuido de mim o melhor que posso, mas quero sentir que vês isso. que gostas, quero que me incentives, que me ajudes. que, principalmente, te dês.
eu ainda sou e quero ser tua.
diz-me.

13/11/13

boom

« Porque não vives nem deixas viver »

bom dia

  • « és uma mulher interessante. falas bem, apresentas-te bem, culta e com bom gosto. engraçada e com um sorriso lindo. mas também és negra e enigmática. também gosto disso em ti, faz parte de ti. as tuas obsessões (e toda a gente as tem) dão-te uma personalidade vincada, por vezes sentirás que isso te prejudica, mas também te dá carácter e isso é essencial, eu gosto disso nas pessoas. és dura mas também és muito frágil. eu gosto da tua dureza e frontalidade, mas gosto muito mais da tua fragilidade por detrás dessas defesas todas. as pessoas que rompem essa barreira são privilegiadas na tua vida e isso difere-te das outras "gajas". vou-te dizer o que não gosto. toda a gente é insegura de alguma forma. no entanto, uma pessoa que não é segura de si e que se força a ter pouca auto estima não é uma pessoa sensual. é essencial trabalharmos na nossa auto estima e não nos compararmos a outros pelas piores razões. eu comparo-me a alguém se quiser melhorar alguma competência laboral ou algo do género. tu és tu. também acho que as tuas inseguranças e obsessões vão ser mais controladas com o tempo e com o teu amadurecimento. daqui a uns anos pensarás noutro tipo de problemas. »

12/11/13

meu

não é meu agora, mas é como se nunca tivesse deixado de ser.
não é meu, mas nem por isso quero partilhar.
não é meu, mas não é por isso que quero menos.
não é meu, mas não é como se não quisesse que fosse.
como se não quisesse tanto que dá uma raiva, frustração e cegueira capazes de fazer de mim algo que não quero ser.
não é meu, mas continua a ser como se fosse.
mas não pode ser.
Menos, por favor.
o fim, a distância, o pseudo-charme, a insegurança.
para quê?
porquê?
aprende a desligar.
não é meu, mas não quero que seja de ninguém.
nem sempre fui bom, mas sempre fui teu.
e agora?
continua meu ou é para começar de novo?

queria descrever o que sinto.
queria descrever o quão queria abstrair-me destas inseguranças, medos.
para quê?
porquê?

não tenho uma resposta, só palavras soltas, só picardias e jogos.
o que é que eu faço com isso?
porque é que não é passa isto tudo e não fica tudo mais simples?
onde é que eu estou a falhar? (same old questions)
porque é que isto me afecta tanto?
não é como se eu quisesse uma prisão, um sufoco, um controlo.
mas queria que fosse meu.

burocracia da dor

tanta burocracia na dor.
para sofrer é fácil, rápido, imediato até.
para sair da depressão, para se afastar do que magoa, para se libertar do que dói já é diferente.
já tem que se ligar a um para pedir a outro aquilo que a outro compete ver se questiona o primeiro.
tem que se pedir por favor, com gentileza, mesmo com a ferida aberta. tem que se ser simpático até na procura da cura. tem que se ser suave a pedir uma forma simples de nos libertarmos das coisas duras e fodidas do corpo, da alma e da vida.
já não chega doer. é preciso doer mais. é preciso que a dor seja assistida, gerida por outra pessoa que não faz a mínima ideia do que se fala.
a burocracia da dor só nos deixa ver-nos livre dela quando desistimos ou quando se está disposto a pagar um preço tão alto quanto a própria dor. quando a humilhação compensa, quando abrir o coração e as feridas em praça pública seja a única forma. quando ninguém sabe ajudar, quando se passa de novo mais algum tempo à espera que, miraculosamente, as feridas fechem e as portas se abram. que a burocracia acabe e tudo volte ao normal.
a burocracia na dor é a forma mais cruel de a superarmos. é a forma mais longa de a mantermos. e não porque queremos e somos casmurros ou masoquistas, mas porque alguém a comanda. quando alguém sentado no gabinete do sofrimento diz Não. quando a nossa força, por maior que seja, é constantemente posta à prova por um bando de polícias da dor a nos intimidar - Daqui não passas, tens que sofrer.
tanta burocracia na dor.
tanta confusão para se deixar de sofrer.
tanta merda para se começar a viver.

desafio

é um desafio enorme deitar ao chão o peso que já achávamos que fazia parte de nós.
mais do que desafio é uma necessidade.
um luxo para quem acha que não consegue.
(somos sempre mais fortes do que pensamos).
para voar é preciso largar os sacos de areia.
para andar em frente é preciso desamarrar.
é preciso ter uma gestão de memória: decidir bem o que guardar de bom e ter um Delete mental suficientemente eficaz para não levarmos para o resto da vida aquilo que nos marcou até certo momento.
esta gestão de memória é o meu primeiro desafio, dentro de muitos que tenho pela frente.
preciso parar de me massacrar com memórias passadas, habituar-me a aceitar que os erros das outras são delas, não nossos. perceber que as decisões que outros tomaram e nos afectaram não pudemos evitar até certo ponto, mas se queremos mudar e parar de sofrer não podemos seguir os mesmos caminhos que elas. que não podemos deixar-nos ser e/ou tornar-nos iguais a elas. que temos que aprender a perceber que aquilo em que nos achamos completamente diferentes de alguém pode ter a diferença entre realmente sermos diferentes e sermos casmurros para não admitirmos que somos parecidos - não em opiniões, mas nas demonstrações. às vezes esquecemos que gritarmos com alguém que grita, mesmo que com opiniões opostas, não nos faz diferentes. (acho que tenho que aprender melhor isto.)
tenho que me dar ao direito de ser Eu, o que quero ser e o que me faz sentir confortável comigo. tenho que me parar de obrigar a ser e fazer aquilo que é mais bonito, mais educado, mais calmo. eu não sou calma, eu sou ansiosa, eu sou educada mas sei usar palavrões em tom delicado; ainda não sei ver-me como bonita, mas trabalho no que posso - tenho que aprender também a ser mais verdadeira comigo, porque sou bonita, sim!, não sei porque insisto em me meter abaixo do que sou. tenho os meus dias e momentos e fases negras; sei que são sempre mais longas e profundas do que gostava, do que aconselho, do que talvez a maioria tenha. sei que me questiono demasiado. sei que questiono tudo em geral demasiado. sei que há quem não tenha nada a esconder e tenha paciência e há quem tenha tudo a esconder e me veja como algo perigoso para o seu conforto.
não sei se posso dizer que tenho que sair da minha área de conforto, porque a verdade é que ela sempre foi tão pequena que não sei sequer se eu alguma vez cabi; se tive que sair foi por falta de espaço, não por desafio.
mas o desafio é ir um dia de cada vez. comer um pedaço do elefante de cada vez.
não posso desgastar-me com a minha ansiedade; sei que ela faz parte de mim, mas antes morrer com ela do que morrer dela.
não sei dar o meu amor de outra forma. não sei dar menos, não sei querer menos, não sei esperar menos. pedirem-me é dizerem que não me amam ou não querem que os ame.
só o quero de maneira simples e sincera. só quero usar palavras simples. só quero sentir que sou A. não aceito menos do que isso e tenho que aprender a aceitar que isso é a forma mais difícil de ser amada.
de todos os desafios, o maior é não deixar que eles sejam mais pesados e maiores do que eu e a minha força.

indecisões

sou eu que sou pessimista ou é a realidade que é uma merda?

parece impossível

quando penso que posso sentir-me mais tranquila, liberta, equilibrada - dentro de todo o caos -, volta tudo de novo.
é desta que consigo.
é desta que vou saber manter a calma.
é desta que vou conseguir resolver os problemas dos outros (os meus tornam-se a sua consequência).
às vezes parece que nada do que escrevo ou digo é o que verdadeiramente está na minha cabeça - parece que nunca vou conseguir usar as palavras com os outros como uso comigo.
sei que guardar para mim não faz bem, mas será que eu ainda sei partilhar?
sei que escrever ajuda a libertar, a pôr raiva nas palavras e não em mim; sei que é uma forma de me organizar. (mas) ao mesmo tempo só sinto que é mais uma confusão. o que está aqui não é tudo o que sinto e, por isso, sinto que estou a ser injusta com o que falta. tudo o que escrevo é sincero - mesmo que de cabeça quente -, mas nem tudo o que sinto consigo ver-me livre para pôr aqui. ou noutro lado qualquer, de outra forma qualquer.
é uma luta entre o que acho que estava a conseguir e o que efectivamente consegui e isso, infelizmente, resume-se, neste momento, a muito pouco.
é uma vergonha tão grande.
um medo e uma raiva e uma desilusão e uma dor tão maiores.
(mas não posso deixar que sejam maiores que eu)
só queria estar sozinha em silêncio, sem sentir passos, vozes. até os silêncios me incomodam, por saber que não é só o meu.
posso estar a ser egoísta. posso estar a ser má. posso estar a ser isto tudo e mais por tanta frustração dentro de mim e não saber onde a canalizar.
não é justo.
só queria paz e sossego.
só queria silêncio.
quando acho que consigo volta tudo atrás, ao mesmo buraco, puxa tudo para baixo.
é preciso muita força para não me deixar ir. hoje sinto-me a deixar ir um bocado. não me apetece levantar da cama, quero escuro até estar escuro de novo. quero silêncio só na minha companhia. não quero ninguém por perto. até quem mais queria parece que não quer que eu queira. parece um jogo que não sei se consigo e quero jogar. (quero-o tanto de forma tão simples e natural que isto me faz sentir que preciso mais de mim do que ele de mim)
não sei para que lado me virar. sei que isto não está certo, mas como hei-de meter de volta à ordem? se é que alguma vez teve ordem (não lembro de ser diferente).
é como dar constantemente um passo em frente para voltar 20 atrás.
é uma sensação tão estranha que não consigo distinguir se dói, se destrói ou se é só uma desilusão tão grande que se torna um modo de vida. na minha cabeça não, mas de que é que serve termos uma cabeça mais ou menos limpa se estamos no meio de gente suja, doente e doentia? de que vale ter toda a força do mundo se nos estão constantemente a puxar para baixo? se nos cortam as asas porque a nossa felicidade não pode ser maior do que a deles.
quando mais me senti desamparada agarrei-me a ele. talvez tenha agarrado demais, tenha dependido demasiado. depois ele largou-me e eu forcei-me a fazer tudo sozinha de novo. agora aparece de novo sem me fazer perceber se quer ou não, se gosta ou não, se me apoia ou não. tem momentos que me agarro, que procuro o cheiro, que volto a segurar-me numa ideia longínqua de Um dia vai dar certo; Um dia vai correr tudo bem; Um dia eu sei o que é ser feliz; Um dia eu vejo-me livre disto tudo; Um dia eu vejo-me livre do que me faz mal e puxa para baixo.
Gosto de sonhar. Mas esses sonhos não servem de nada. Não me posso voltar a agarrar a eles. Eles não vão valer de nada quando ele me voltar a dizer que, afinal, não quer estar comigo. quando perceber que, afinal, foi um erro, foi só uma descaída. afinal ele quer mesmo estar sem mim, quer mesmo ser feliz sozinho ou com alguém diferente de mim. Não sei o que pensar. Não sei o que fazer com o que sinto. Preciso de escapes, de formas de me afastar do que me faz mal. Preciso de mudar de ares, terras, roupas, quartos e lençóis de cama.
Por que é que é tão difícil? não me venham com a treta do Se fosse para ser fácil não tinha piada. Tinha, tinha sim e muita. muito mais do que tenho tido. não faz mal ser um bocadinho difícil, mas é fodido parecer impossível.


29/10/13

i've learned

« I've learned that no matter what happens, or how bad it seems today, life does go on, and it will be better tomorrow. I've learned that you can tell a lot about a person by the way he/she handles these three things: a rainy day, lost luggage, and tangled Christmas tree lights. I've learned that regardless of your relationship with your parents, you'll miss them when they're gone from your life. I've learned that making a "living" is not the same thing as making a "life." I've learned that life sometimes gives you a second chance. I've learned that you shouldn't go through life with a catcher's mitt on both hands; you need to be able to throw something back. I've learned that whenever I decide something with an open heart, I usually make the right decision. I've learned that even when I have pains, I don't have to be one. I've learned that every day you should reach out and touch someone. People love a warm hug, or just a friendly pat on the back. I've learned that I still have a lot to learn. I've learned that people will forget what you said, people will forget what you did, but people will never forget how you made them feel.” 

Maya Angelou

break your heart open so new light can get in

« People think a soul mate is your perfect fit, and that's what everyone wants. But a true soul mate is a mirror, the person who shows you everything that is holding you back, the person who brings you to your own attention so you can change your life. A true soul mate is probably the most important person you'll ever meet, because they tear down your walls and smack you awake. But to live with a soul mate forever? Nah. Too painful. Soul mates, they come into your life just to reveal another layer of yourself to you, and then leave.  A soul mates purpose is to shake you up, tear apart your ego a little bit, show you your obstacles and addictions, break your heart open so new light can get in, make you so desperate and out of control that you have to transform your life, then introduce you to your spiritual master (...)» 

Eat, Pray, Love, Elizabeth Gilbert

horrible, isn't it?

« Have you ever been in love? Horrible isn't it? It makes you so vulnerable. It opens your chest and it opens up your heart and it means that someone can get inside you and mess you up. »


Neil Gaiman, The Sandman

any other way of loving

« I love you without knowing how, or when, or from where. I love you simply, without problems or pride: I love you in this way because I do not know any other way of loving but this, in which there is no I or you, so intimate that your hand upon my chest is my hand, so intimate that when I fall asleep your eyes close. »


100 Love sonnets, Pablo Neruda


27/10/13

dentro uns dos outros

< e o silêncio dessas ocasiões garantia-nos, de certa forma, continuarmos a existir num qualquer espaço  dentro uns dos outros, a capacidade de reviver o que já não era tempo de viver, aquilo que sabíamos que não voltaria jamais. >


Daqui a nada, Rodrigo Guedes de Carvalho

nesse aceno último

< como se nesse aceno último estivesse todo o o sumo das palavras que não conseguíamos dizer se estávamos juntos, frente a frente em corpo, que é a maneira mais verdadeira de se estar. >


Daqui a nada, Rodrigo Guedes de Carvalho
< não vás>
<não me deixes>
<o meu homem partiu>


Daqui a nada, Rodrigo Guedes de Carvalho

a escuridão garante-me

< desligo a luz e a escuridão garante-me que estou de facto só, não me adianta ficar de olhos abertos no colchão à espera de uma chave na porta que não há-de vir, que não há-de vir, que não virá, que não sei se alguma vez voltará a existir, uma chave na porta que abrisse o ferrolho do meu coração sobressaltado de lebre, agora tudo me faz medo. >


Daqui a nada, Rodrigo Guedes de Carvalho

o silêncio

< o silêncio cresce como os pulmões nas montanhas, o silêncio incha dentro do quarto como o gás em câmaras fechadas, cresce, asfixia-me, já não sei há quanto tempo estou sozinha, deixei de contar, há quanto tempo recebo aerogramas coloridos em vez de receber mãos, olhos, boca, em vez de receber a tua pele (...), em vez de te receber todo, de uma só vez, como dantes todo de uma vez como se quisesses desaparecer em mim, para um sítio onde ninguém te pudesse ir buscar, um esconderijo no meu medo que te escondesse para sempre, nenhuma chave na porta, onde estás, tens comido bem, tens frio à noite, onde estás (...) >

Daqui a nada, Rodrigo Guedes de Carvalho

tudo, amor

< sítios que não conheço e não conhecerei nunca, sítios que só sei longe de mim, tudo, amor, longe do que planeámos, um acidente de percurso, quero acreditar, um insignificante desvio de rota, temporário e perecível, mas não, apercebo-me de que já passou demasiado tempo desde que partiste, onde estás, procuro-te de noite, estendo a mão para o teu lado da cama, e não estás, balbucio o teu nome e não te encontro, estendida de barriga para cima como os afogados, nenhuma chave na porta, sou uma mulher portuguesa que espera, como todas as mulheres portuguesas que esperam que voltes, trazendo contigo a nossa saudade portuguesa, trazendo no bolso da camisa todas as cartas tontas de amor que te enviámos como se não esperássemos que as recebesses, endereçadas para o vazio imenso, para o nada, para nós próprias, porque temos medo que saibas o quanto te amamos, porque não queremos que saibas que as noites sem ti são terríveis de suportar, que sem ti os dias se prolongam, cinzentos em vagarosos minutos (...) >

Daqui a nada, Rodrigo Guedes de Carvalho

e doía-me, acredita

< e doía-me, acredita, (...), ser tudo isso com tanta força dentro de mim mas incapaz de o demonstrar, de o dar a entender, passei uma vida a esperar que me adivinhassem os gestos para não ter que os fazer, que me suspeitassem os desejos para mos satisfazerem antes de ter que os pedir, por isso me apercebo que falhei, que de alguma forma cheguei atrasado, por isso penso, (...), que está na altura de regressar, será tarde, irei a tempo, a noite avança, alastra de mim até se perder de vista. >


Daqui a nada, Rodrigo Guedes de Carvalho

19/10/13

nada é tão mau

nada é pior do que não te ter
e ver que outros braços
te dispensam beijos falsos, fáceis rimas de prazer.

nada é tão mau quanto não te ter
e saber que o teu riso
é o aviso que de ti preciso para viver.

não preciso de te explicar, que ideia é essa
que as palavras falam aos ouvidos
melhor que os olhos ao coração?


mas assim eu não te vou ter,
porque é à custa de palavras, mesmo erradas,
que aprendemos a quem queremos conhecer.


sem afirmar eu não vou crescer.
que face posso dar quando errar,
porque ninguém ouviu o que eu não quis dizer?

eu vou ter de te falar, deixar explodir,
explicar que o que te mostro
é tão menos do que me obrigo a calar.

04/10/13

diz que sim

« Sei de cor cada lugar teu. Atado em mim, a cada lugar meu. Tento entender o rumo que a vida nos faz tomar. Tento esquecer a mágoa, guardar só o que é bom de guardar. Pensa em mim, protege o que eu te dou. Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou. Sem ter defesas que me façam falhar nesse lugar mais dentro, onde só chega quem não tem medo de naufragar. Fica em mim, que hoje o tempo dói como se arrancassem tudo o que já foi. E até o que virá e até o que eu sonhei, diz-me que vais guardar e abraçar tudo o que eu te dei. Mesmo que a vida mude os nossos sentidos e o mundo nos leve pra longe de nós, e que um dia o tempo pareça perdido e tudo se desfaça num gesto só - eu vou guardar cada lugar teu ancorado em cada lugar meu. E hoje apenas isso me faz acreditar que eu vou chegar contigo onde só chega quem não tem medo de naufragar. »
e dói tanto que todo o espaço é pouco.
e dói tanto que nenhum espaço era o que precisava - entre nós.
(volta.)
(fica.)

fim

até o meu sabão líquido Bioderma durou mais tempo.

23/09/13

[ ]

é no meu (quase interrompido) silêncio da noite que (me) descubro.
[o meu quase interrompido eu.]
que sei que é de um que preciso para encontrar o outro.

não consigo avançar.
mais do que ser uma bola de neve, é ser uma bola de travões.
será que sou eu que me puxo para trás ou é algo/alguém mais?
são coisas que dependem exclusivamente de mim?
se sim, onde estou a falhar?
onde é que o silêncio todo que tenho e posso vir a ter me fará sentido?
onde é que ele vai ser realmente o que preciso?

tough, tough day.
and night.

(quero-te. quero-te tanto.)
por que é que não voltas? porque é foste? (eu sei porquê, mas não chega.)
por que é que são mais os contras do que os pros? os pros vêm de onde?
passado? imaginação?
é suposto ser forte onde? como? por quem?
é suposto segurar-me?

(quero-me. mas só me quero mais ou menos. é isso?)

porque é que eu não volto? porque é que me fui? (não sei por que me fui)
por que é que nem houve nem pros nem contras?
simplesmente me apaguei (?).
é suposto seres forte? por mim? como?
é suposto segurar-me.
(segura-me).

é no silêncio (já interrompido) da noite que (me) perco.
de novo.
que sei que preciso de mim para ter silêncio.

(preciso de ti.)
(silêncio contigo.)
(quebra o silêncio.)
(aparece, simplesmente.)





19/06/13

as outras pessoas

no início, as outras pessoas não interessam, não são importantes, não existem.
há uma auto-suficiência demasiado poderosa.
há o mundo inteiro, mas não importa, o que importa somos nós, o amor.
tudo o que a outra pessoa é chega-nos.
constrói-se um muro de És tudo o que preciso e quero.
Somos só nós, mais nada.
depois, a distância.
a separação dos corpos.
a força interior de suportar o mundo em sítios separados.
a força pelos dois.
a paciência.
e, com o tempo, a distância mental.
o foco muda, o medo aparece, as dúvidas aparecem.
a auto-estima, o ego, o orgulho.
as discussões, a distância, o skype desligado e dois dias para ligar.
as prioridades, o tempo a menos e o tempo a mais.
as outras pessoas.
o peso que passam a ter. que antes não tinha tempo nem força ou vontade de lhes dar.
eu compreendia.
agora não.
há coisas que se vêem, que se ouvem, que se lêem.
que se encontram sem se procurar e que passam a fazer parte de uma rotina de luta.
as outras pessoas.
não somos suficientes sozinhos nem só com uma pessoa.
é por isso que existem amigos, é por isso que há quem traia.
nunca vamos ser suficientes. (é isso?)
percebe-se que assim não faz bem, que é possessivo, que não nos faz evoluir.
que não daremos nunca tudo de nós. que nunca seremos tudo nem nunca ninguém o será connosco.
então o que sobra de nós vai para onde? fica com quem?
com as outras pessoas (?).
é por isso que é suposto aceitar que, comigo, se fala umas coisas e com outras pessoas se fala daquilo que não tenho direito a saber?
ou que tenho direito a saber mas que nunca vou chegar a saber?
para que servem as outras pessoas, então?
e nós?
e o nosso interesse, o nosso amor, a nossa dedicação e auto-suficiência?

(mas diz que eu chego. que eu sou tudo. que só me queres a mim. muito. tudo. meu. nosso. diz. diz que não há ninguém. só nós. porque é que eu acredito mas quero mais? mas diz. diz muito. tudo. teu. nosso. sempre.)


12/06/13

escrever o coração

não sei se falar da mente e do coração são coisas tão diferentes quanto se diz.
mas sei que falar de ambas é difícil.

22/05/13

sentar a alma

preciso de sentar, respirar e escrever a minha alma.
não toda - não consigo -, mas o mais importante.
talvez o mais superficial.
talvez tenha que aprender a adequar a minha comunicação.
talvez a minha cabeça esteja a entrar em curto circuito e preciso de um tempo para organizar ideias.
ainda assim e para já, sinto que preciso de sentar e escrever-lhe num papel.
escrever-lhe, simplesmente.
ser eu.
por e para mim.

preciso.
tenho que - é urgente.
é doentio.
é mais do que eu sou, do que tenho sido.
é maior do que eu.
engole-me.

quanto mais preciso das palavras, mais elas me fogem.
quanto mais preciso de força, mais ela me consome.
quanto mais preciso de paz em mim, mais entro em guerra comigo.

não pode ser,
não dá,
não consigo,
não quero.

seja que caminho eu vá,
preciso de ir.
a algum lado.
(contigo)

o amor é mais do que fodido

« O amor é fodido. Hei-de acreditar sempre nisto. Onde quer que haja amor, ele acabará, mais tarde ou mais cedo, por ser fodido. (...) Por que é que fodemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem de haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo. »

Miguel Esteves Cardoso

20/05/13

talvez

não consigo perceber se o mundo parou ou passou a andar a mil à hora.
não consigo perceber se é traição ou desabafo.
não consigo entender se é atracção se é conexão intelectual/espiritual.
não consigo entender se existia isso antes entre nós - e, por isso, me faz sentir mais uma -, ou se nunca existiu e eu fui o mais próximo da idealização de liberdade.
não consigo entender se existia uma maior libertação e cumplicidade antes e se se perdeu: o dia-a-dia mata ou constrói?
não sei sequer se é suposto compreender.
se são duas almas para além da minha compreensão. se o meu coração sequer aguenta tanta cumplicidade, à vontade e abertura.
se é só um espaço de explosão ou se é a procura de uma fuga.
já perguntei, mas nunca consigo compreender.
já abri completamente a minha alma para tudo o que pudesse ser entendido e pouco me acalmou. talvez pelo contrário.
às vezes sinto-me como sabonete: quanto mais apertam, mais escorrega. no meu caso seria muito próxima de Quanto mais vejo a serem assim, menos eu consigo ser eu própria, por muitas vezes ser parecida.
começo a achar que nunca existiu tal profundidade de pensamentos entre nós. talvez a mesma língua tenha fodido tudo. tenha tirado a beleza da descoberta e troca de palavras. talvez a proximidade tenha tirado a beleza natural. o desconhecido passou a demasiado conhecido e eu sem conseguir entender, mais uma vez, se conhecer profundamente as pessoas no dia-a-dia nos mata ou constrói como pessoas.
não consigo perceber se o mundo parou em mim ou se passou a andar a mil à hora. o que sei é que o meu estômago arde, encolhe-se de tal forma que comer parece uma tortura.
parece que sou melhor do que achava. talvez.
talvez seja pior também.
talvez eu tenha perdido demasiado tempo a pensar e pouco a agir. às vezes sinto que guardei demasiado para mim e nem sempre sei explodir (há quem saiba?).
talvez eu não tenha ou esteja a orientar bem a minha dor. talvez as minhas explosões tenham efeitos muito perigosos para mim e para a minha saúde.
talvez eu não vá nunca compreender.
talvez nunca ninguém (me) compreenda verdadeiramente.
talvez sejamos, no fundo, apenas duas almas mortas à deriva, à espera que alguém nos salve. ou que nos faça salvar-nos a nós próprios.
talvez a sua alma seja mais profunda do que eu consigo descer. talvez eu tenha descido demais e mostrado demais de mim. talvez não tenha sido o suficiente.
nunca vou compreender. ou talvez o diálogo aberto - depois de todo o drama do dia-a-dia - seja uma linha ténue entre entendimento ou destruição assistida.
de qualquer das formas sinto que preciso ou de voltar a tê-lo e senti-lo ou de o deixar de vez.

31/03/13

kamikaze

« és uma namorada kamikaze! destróis-te a ti e ainda me queres destruir a mim! »