27/10/13

tudo, amor

< sítios que não conheço e não conhecerei nunca, sítios que só sei longe de mim, tudo, amor, longe do que planeámos, um acidente de percurso, quero acreditar, um insignificante desvio de rota, temporário e perecível, mas não, apercebo-me de que já passou demasiado tempo desde que partiste, onde estás, procuro-te de noite, estendo a mão para o teu lado da cama, e não estás, balbucio o teu nome e não te encontro, estendida de barriga para cima como os afogados, nenhuma chave na porta, sou uma mulher portuguesa que espera, como todas as mulheres portuguesas que esperam que voltes, trazendo contigo a nossa saudade portuguesa, trazendo no bolso da camisa todas as cartas tontas de amor que te enviámos como se não esperássemos que as recebesses, endereçadas para o vazio imenso, para o nada, para nós próprias, porque temos medo que saibas o quanto te amamos, porque não queremos que saibas que as noites sem ti são terríveis de suportar, que sem ti os dias se prolongam, cinzentos em vagarosos minutos (...) >

Daqui a nada, Rodrigo Guedes de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário