14/11/13

160º

bem, então é esquecer tudo o que escrevi abaixo, certo?

desabafos

não é como se nunca to tivesse dito. como se alguma vez tivesse deixado por dizer alguma coisa. ou como se tivesse mudado de ideias e tenha que, de novo, dizer o que sinto de novo.
(na cama à noite muita coisa me passa pela cabeça.)
nunca sei por onde começar, mas aqui vai.
as coisas que mais tinha medo eram que me deixasses, que perdesses o medo de me perder e que, caso isso acontecesse, passasses a estar bem sem mim.
eventualmente aconteceu - não tiveste medo de me perder quando foste tu a dizer que não querias mais.
quando começámos a estar juntos eu estava certa de mim e quase tão certa de ti. não lembrava ou até sabia o que era isso; o que era confiar tanto de novo em alguém que conseguia meter as mãos no fogo por ela. nunca me passou pela cabeça que isso me iria acontecer. tinha prometido a mim mesma que não estaria de novo com alguém que não me fizesse sentir segura, que me fizesse pôr em causa o que sou e sou capaz. mordi a língua contigo e prometeste-me dar motivos para o continuar a fazer, nem sempre da mesma forma mas da melhor forma que podias. aceitei e atirei-me de cabeça, coração, tudo meu. dei-me de tal forma que nunca me passou pela cabeça pôr-me/te/nos em causa na mínima coisa que fosse. sentia que éramos só nós, que chegávamos, que nos fazíamos felizes e mais ninguém era tão importante. não sei bem como nem porquê comecei a perder o equilíbrio, a confiança (em mim), a estabilidade, a inocência, a força e coragem, a auto-estima e auto-controlo. passei a dizer tudo o que me vinha à cabeça, mesmo sabendo que nem tudo era verdade ou sincero. que eventualmente ia magoar um de nós ou até os dois. comecei a sentir-te diferente, distante, reservado de uma forma que te pedi sempre para não seres comigo. vi coisas que não gostei e me magoaram - coisas que me fizeram acabar relações antes. deixei de ver coisas que me faziam sentir bem, que gostava e que, de certa forma, precisava por me ter habituado a elas.
não consigo aceitar que digam que Os primeiros anos são sempre lindos, depois é sempre a decrescer! como se nós também tivessemos um prazo de validade.
de qualquer das formas parece que tivemos o nosso prazo de validade. chegou a um ponto que não quiseste mais, que disseste que não aguentavas mais, que estavas magoado, que as coisas precisavam de tempo e que poderiam ter ou não volta a dar. eu nunca deixei de acreditar que daria certo de novo, mas não da mesma forma.

não quero, aceito ou mereço menos do que tivemos. não penso que tenha que ser da exacta mesma forma, mas sim com o mesmo conteúdo. não quero menos amor, menos atenção, menos vontade, menos esforço. se for para isso quem não quer sou eu. eu acredito demasiado em nós e em ti para achar que nos devemos ficar pelo mediano. eu posso ter um trabalho mais ou menos, roupa mais ou menos ou sair mais ou menos, mas eu não aceito nem mereço amor nem amar mais ou menos, viver contigo mais ou menos, sentir mais ou menos ou sentir que só me dás mais ou menos segurança. eu sempre (!) te dei as maiores certezas do que sentia, fiz sempre um esforço para que nunca te faltasse nada, que em momento algum duvidasses do que sentia, do que queria para nós e contigo; para nunca te sentires inseguro. sei que falhei em alguns pontos de confiança e segurança, mas tem razões dos dois lados. falhaste comigo também. ambos falhámos e acho que ambos já percebemos isso. honestamente não me interessa apontar o dedo a nenhum dos dois. se quero estar contigo é porque quero mudar isso.

eu quero que me queiras muito, que me ames, que não me tenhas como dado adquirido, que me demonstres isso tudo - não quero da mesma forma que eu, mas quero uma tua que me faça sentir bem. não me importa se é falado, escrito, sinais de fumo, letras de música, filmes, cartas e postais. não me importa se preferes dizer-me as coisas no escuro por te sentires à vontade. não me importa se preferes escrever à mão, à maquina, por skype. não me importa a forma como o demonstras, só quero sentir que é teu, é da tua vontade, do teu amor. quero (e preciso) de equilíbrio. aceito todas as tuas formas de me dizer as coisas, as mais banais às mais profundas e obscuras. aceito tudo teu, sempre te disse. seja de que forma for. mas uma coisa eu quero deixar clara: eu quero equilíbrio. porque se há coisas que não me importo que me digas no escuro, a chorar, aos berros, porque tens vergonha, medo (...), também quero que haja coisas que me digas na cara, nos olhos, a apertares-me contra ti e me dês força. quero que te abras comigo. quero que morras de medo de algo e mo digas, quero que tremas por dentro por te fazer falta, que me digas se estás frustrado, chateado, triste, angustiado, QUALQUER coisa. mas mo digas. eu aceito que não queiras falar com ninguém durante esses momentos mais negros, mas quero que, depois, te sentes ao pé de mim e te abras comigo, que me ajudes a ajudar-te, que saibas e queiras que eu faça parte de ti. eu estou sempre ao teu lado, sempre que precisares.

estamos num momento difícil. foi uma distância estranha, à qual não me consegui habituar nem sequer compreender. é uma distâcia que nos fez perder partes de cada um, que nos fez, de certa forma, desligar de grande parte do dia-a-dia do outro. uma distância que me arrepia e mói saber que nunca vou estar a par do que verdadeiramente aconteceu. de quem conheceste, do que fizeste, em quem tocaste ou te tocou, o que pensaste e sentiste. é como se este tempo tivesse sido um buraco nas nossas vidas. não sei se é suposto recuperá-lo, mas não quero que ele nos engula. quero que me faças sentir segura, não ter medo. não ficar a pensar que algo se passou e que eu nunca saberei. não quero que ele nos derrote ou enterre. é uma oportunidade de nos renovarmos, de nos (re)conhecermos, mas preciso do teu lado também.
sou egoísta, sim. quero ser especial, única e A. não aceito metades nem mais ou menos, já disse. não quero pedir nem exigir-te nada, quero que faças e digas por ti. quero que me relembres do pulso firme de És minha, Quero que sejas minha. quero que relembres dos teus ciúmes, das tuas brincadeiras e até inseguranças. não quero que sejas inseguro - eu amo-te mais do que alguma vez amei alguém -, só quero que me mostres que és como eu, que realmente és feito da mesma matéria que eu. não te quero sempre mauzão, durão e forte. eu sei que falhas, que quebras, que tens momentos negros. não me importa a quantidade nem a forma, importa-me que o partilhes comigo. quero que me fales de tudo (!) o que te venha à cabeça - planos do dia-a-dia até a parares para reflectir sobre o futuro ou a nossa essência. quero que reconheças o meu valor e me saibas traduzi-lo por palavras. quero que saibas porque gostas de mim e não porque te habituaste a isso. quero que me digas o que te interessa em mim, o que te faz querer estar comigo, o que não gostas, o que precisas de mim. quero tanto que conversemos como que saibamos estar em silêncio (de preferência abraçados com música).

quero de novo virar-nos para nós. para as nossas coisas, questões, medos, planos, falhanços. quero tudo o que há para termos. sem nos esgotarmos. quero ir com calma de novo, mas quero sentir a emoção, a tesão, a força, a energia e a vontade. quero sentir-te seguro, forte e apaixonado. quero-te todo, quero que me queiras toda.
não volto a dizer-te constantemente que quero e preciso da tua atenção, quero que seja natural. quero que saibas que compreendo a diferença entre focares-te na faculdade/cansaço e a óbvia falta de interesse e paciência. não aceito mais os cansaços que não te tiram a vontade de me abraçar espontaneamente, de me fazer festas no cabelo e dizeres o quanto me achas bonitas e me amas. isso é cansaço de falta de vontade. o cansaço normal só te faz dormir mais, não te tira a força das palavras de me dizeres Estou cansado, mas quero dormir ao teu lado. percebes a diferença?

quero começar de novo, já disse isto, não já?
quero as nossas bases, a nossa força, a nossa energia, o nosso mau feitio, as nossas picardias e o nosso amor.
mas quero renovar o que está de fora. não me importa com quem falas, mas que nunca volte a sentir que as outras pessoas têm mais da tua atenção em algumas coisas do que eu, que falas de certos assuntos que não falas comigo, que não os puxas comigo sequer. não quero sentir que comigo és o verdadeiro e com as outras pessoas mostras o charme de uma pessoa que queres ser. sou egoísta ao ponto de dizer que não quero que as outras pessoas tenham o mesmo de ti que eu tenho, porque ninguém tem, para mim, o que tu tens de mim. não há partilhas que faça com alguém que não faça contigo, que te procure para fazer. seja espontâneo, seja porque me lembrei, seja por que motivo for. que eu não dê por mim a pensar que algo em mim me falha e que, por isso, precisas de procurar noutras pessoas. não me mintas - omissão também é forma de mentira. não tenhas medo de me dizer a verdade. com certeza ela vai ser menos dolorosa do que a minha suposição das coisas.

disseram-me que eu tenho que aceitar que tenhas outras pessoas que, por serem diferentes de mim, te vão preencher mais do que eu. que tenho que aceitar que acontece com toda a gente, porque não há ninguém verdadeiramente completa e que seja perfeita ao ponto de saber/fazer tudo de tudo. que eu tenho que aceitar que vais ter sempre alguma amiga por quem te sentes atraído (seja mental ou fisicamente), que nunca mo vais dizer porque achas que me vai magoar e que é desnecessário, porque não vais querer deixar de estar comigo por isso. que eu tenho que aceitar que nunca vou ser boa suficiente em tudo o que gostas em alguém, vai haver sempre alguém para além de mim. disseram-me que tinha que aceitar que ias sempre ter alguém sobre a qual não me vais dizer a verdade sobre a tua verdadeira relação com ela, que vão ser sempre Só amigas. que nunca vais admitir que pensas nelas ou que tens saudades delas, que tens momentos em que sonhas com elas, que as imaginas em determinados momentos, incluindo ao pé de ti no teu dia-a-dia. que, de certa forma, as desejas. cada uma à sua maneira e pelos seus motivos, mesmo que nunca seja um desejo tão grande quanto o que tens por mim, mas que desejas estar com elas, partilhar as coisas com elas, aventurares-te com elas. e que eu nunca irei saber. que se eu nunca aceitar isso nunca vou viver nem te deixar viver. queria saber a tua opinião sobre isto.

Só precisas de confiar em mim. não é só isso. a confiança não vem só de palavras, comodismos ou exigências. a confiança vem de actos, de provas, de atitudes, de demonstrações. (as tais que não peço que sejam como as minhas, mas que me façam sentir segura.)
quero que confies em mim, claro, mas também quero que me questiones, me encostes à parede e me enfrentes, que tenhas medo. (tenho sempre na cabeça que medo de me perder é coisa que não tens e que não sei como voltar a sentir que isso tem importância para ti.)
(de novo: ) sei que não és nenhum robot, mas quero que te mostres humano. quero que tenhas feridas também, quero que mas mostres. quero que uses as palavras, elas existem para isso. sempre soubeste expressar-te tão bem comigo e parece que me sinto inibida para te pedir de novo para o fazeres. eu não tinha que o pedir sequer.
dá para perceber o quão natural eu queria que as coisas voltassem a ser? o quanto quero tanto estar contigo que quero que a nossa comunicação seja a melhor possível?
parece que estamos a passar a fase mais difícil e que nunca mais vem a parte boa, que é só testes, dificuldades e desafios e que parece que tudo se torna muito mais difícil à distância e a ter que escrever. mas é a nossa única forma. achas que é possível ainda assim? estás disposto a tentar? amas-me mais do que o suficiente para isto?

eu sou uma pessoa difícil, bem sei. consigo ser insuportável, bem sei. sei que é preciso muita paciência e amor para me aguentar em alguns momentos. mas eu não sou só isso. eu não sou só as tais nuvens negras. eu não sou só estas fragilidades, estas perguntas, estes medos e inseguranças. eu só quero que saibas que se me abro a ti para mostrar o meu lado mais feio, também quero que me ames o suficiente para te dar o meu lado mais bonito. que saibas que, descabelada ou não, Eu sou Eu. eu dou o melhor que tenho de mim, faço o melhor que sei, amo-te o mais que posso, cuido de mim o melhor que posso, mas quero sentir que vês isso. que gostas, quero que me incentives, que me ajudes. que, principalmente, te dês.
eu ainda sou e quero ser tua.
diz-me.

13/11/13

boom

« Porque não vives nem deixas viver »

bom dia

  • « és uma mulher interessante. falas bem, apresentas-te bem, culta e com bom gosto. engraçada e com um sorriso lindo. mas também és negra e enigmática. também gosto disso em ti, faz parte de ti. as tuas obsessões (e toda a gente as tem) dão-te uma personalidade vincada, por vezes sentirás que isso te prejudica, mas também te dá carácter e isso é essencial, eu gosto disso nas pessoas. és dura mas também és muito frágil. eu gosto da tua dureza e frontalidade, mas gosto muito mais da tua fragilidade por detrás dessas defesas todas. as pessoas que rompem essa barreira são privilegiadas na tua vida e isso difere-te das outras "gajas". vou-te dizer o que não gosto. toda a gente é insegura de alguma forma. no entanto, uma pessoa que não é segura de si e que se força a ter pouca auto estima não é uma pessoa sensual. é essencial trabalharmos na nossa auto estima e não nos compararmos a outros pelas piores razões. eu comparo-me a alguém se quiser melhorar alguma competência laboral ou algo do género. tu és tu. também acho que as tuas inseguranças e obsessões vão ser mais controladas com o tempo e com o teu amadurecimento. daqui a uns anos pensarás noutro tipo de problemas. »

12/11/13

meu

não é meu agora, mas é como se nunca tivesse deixado de ser.
não é meu, mas nem por isso quero partilhar.
não é meu, mas não é por isso que quero menos.
não é meu, mas não é como se não quisesse que fosse.
como se não quisesse tanto que dá uma raiva, frustração e cegueira capazes de fazer de mim algo que não quero ser.
não é meu, mas continua a ser como se fosse.
mas não pode ser.
Menos, por favor.
o fim, a distância, o pseudo-charme, a insegurança.
para quê?
porquê?
aprende a desligar.
não é meu, mas não quero que seja de ninguém.
nem sempre fui bom, mas sempre fui teu.
e agora?
continua meu ou é para começar de novo?

queria descrever o que sinto.
queria descrever o quão queria abstrair-me destas inseguranças, medos.
para quê?
porquê?

não tenho uma resposta, só palavras soltas, só picardias e jogos.
o que é que eu faço com isso?
porque é que não é passa isto tudo e não fica tudo mais simples?
onde é que eu estou a falhar? (same old questions)
porque é que isto me afecta tanto?
não é como se eu quisesse uma prisão, um sufoco, um controlo.
mas queria que fosse meu.

burocracia da dor

tanta burocracia na dor.
para sofrer é fácil, rápido, imediato até.
para sair da depressão, para se afastar do que magoa, para se libertar do que dói já é diferente.
já tem que se ligar a um para pedir a outro aquilo que a outro compete ver se questiona o primeiro.
tem que se pedir por favor, com gentileza, mesmo com a ferida aberta. tem que se ser simpático até na procura da cura. tem que se ser suave a pedir uma forma simples de nos libertarmos das coisas duras e fodidas do corpo, da alma e da vida.
já não chega doer. é preciso doer mais. é preciso que a dor seja assistida, gerida por outra pessoa que não faz a mínima ideia do que se fala.
a burocracia da dor só nos deixa ver-nos livre dela quando desistimos ou quando se está disposto a pagar um preço tão alto quanto a própria dor. quando a humilhação compensa, quando abrir o coração e as feridas em praça pública seja a única forma. quando ninguém sabe ajudar, quando se passa de novo mais algum tempo à espera que, miraculosamente, as feridas fechem e as portas se abram. que a burocracia acabe e tudo volte ao normal.
a burocracia na dor é a forma mais cruel de a superarmos. é a forma mais longa de a mantermos. e não porque queremos e somos casmurros ou masoquistas, mas porque alguém a comanda. quando alguém sentado no gabinete do sofrimento diz Não. quando a nossa força, por maior que seja, é constantemente posta à prova por um bando de polícias da dor a nos intimidar - Daqui não passas, tens que sofrer.
tanta burocracia na dor.
tanta confusão para se deixar de sofrer.
tanta merda para se começar a viver.

desafio

é um desafio enorme deitar ao chão o peso que já achávamos que fazia parte de nós.
mais do que desafio é uma necessidade.
um luxo para quem acha que não consegue.
(somos sempre mais fortes do que pensamos).
para voar é preciso largar os sacos de areia.
para andar em frente é preciso desamarrar.
é preciso ter uma gestão de memória: decidir bem o que guardar de bom e ter um Delete mental suficientemente eficaz para não levarmos para o resto da vida aquilo que nos marcou até certo momento.
esta gestão de memória é o meu primeiro desafio, dentro de muitos que tenho pela frente.
preciso parar de me massacrar com memórias passadas, habituar-me a aceitar que os erros das outras são delas, não nossos. perceber que as decisões que outros tomaram e nos afectaram não pudemos evitar até certo ponto, mas se queremos mudar e parar de sofrer não podemos seguir os mesmos caminhos que elas. que não podemos deixar-nos ser e/ou tornar-nos iguais a elas. que temos que aprender a perceber que aquilo em que nos achamos completamente diferentes de alguém pode ter a diferença entre realmente sermos diferentes e sermos casmurros para não admitirmos que somos parecidos - não em opiniões, mas nas demonstrações. às vezes esquecemos que gritarmos com alguém que grita, mesmo que com opiniões opostas, não nos faz diferentes. (acho que tenho que aprender melhor isto.)
tenho que me dar ao direito de ser Eu, o que quero ser e o que me faz sentir confortável comigo. tenho que me parar de obrigar a ser e fazer aquilo que é mais bonito, mais educado, mais calmo. eu não sou calma, eu sou ansiosa, eu sou educada mas sei usar palavrões em tom delicado; ainda não sei ver-me como bonita, mas trabalho no que posso - tenho que aprender também a ser mais verdadeira comigo, porque sou bonita, sim!, não sei porque insisto em me meter abaixo do que sou. tenho os meus dias e momentos e fases negras; sei que são sempre mais longas e profundas do que gostava, do que aconselho, do que talvez a maioria tenha. sei que me questiono demasiado. sei que questiono tudo em geral demasiado. sei que há quem não tenha nada a esconder e tenha paciência e há quem tenha tudo a esconder e me veja como algo perigoso para o seu conforto.
não sei se posso dizer que tenho que sair da minha área de conforto, porque a verdade é que ela sempre foi tão pequena que não sei sequer se eu alguma vez cabi; se tive que sair foi por falta de espaço, não por desafio.
mas o desafio é ir um dia de cada vez. comer um pedaço do elefante de cada vez.
não posso desgastar-me com a minha ansiedade; sei que ela faz parte de mim, mas antes morrer com ela do que morrer dela.
não sei dar o meu amor de outra forma. não sei dar menos, não sei querer menos, não sei esperar menos. pedirem-me é dizerem que não me amam ou não querem que os ame.
só o quero de maneira simples e sincera. só quero usar palavras simples. só quero sentir que sou A. não aceito menos do que isso e tenho que aprender a aceitar que isso é a forma mais difícil de ser amada.
de todos os desafios, o maior é não deixar que eles sejam mais pesados e maiores do que eu e a minha força.

indecisões

sou eu que sou pessimista ou é a realidade que é uma merda?

parece impossível

quando penso que posso sentir-me mais tranquila, liberta, equilibrada - dentro de todo o caos -, volta tudo de novo.
é desta que consigo.
é desta que vou saber manter a calma.
é desta que vou conseguir resolver os problemas dos outros (os meus tornam-se a sua consequência).
às vezes parece que nada do que escrevo ou digo é o que verdadeiramente está na minha cabeça - parece que nunca vou conseguir usar as palavras com os outros como uso comigo.
sei que guardar para mim não faz bem, mas será que eu ainda sei partilhar?
sei que escrever ajuda a libertar, a pôr raiva nas palavras e não em mim; sei que é uma forma de me organizar. (mas) ao mesmo tempo só sinto que é mais uma confusão. o que está aqui não é tudo o que sinto e, por isso, sinto que estou a ser injusta com o que falta. tudo o que escrevo é sincero - mesmo que de cabeça quente -, mas nem tudo o que sinto consigo ver-me livre para pôr aqui. ou noutro lado qualquer, de outra forma qualquer.
é uma luta entre o que acho que estava a conseguir e o que efectivamente consegui e isso, infelizmente, resume-se, neste momento, a muito pouco.
é uma vergonha tão grande.
um medo e uma raiva e uma desilusão e uma dor tão maiores.
(mas não posso deixar que sejam maiores que eu)
só queria estar sozinha em silêncio, sem sentir passos, vozes. até os silêncios me incomodam, por saber que não é só o meu.
posso estar a ser egoísta. posso estar a ser má. posso estar a ser isto tudo e mais por tanta frustração dentro de mim e não saber onde a canalizar.
não é justo.
só queria paz e sossego.
só queria silêncio.
quando acho que consigo volta tudo atrás, ao mesmo buraco, puxa tudo para baixo.
é preciso muita força para não me deixar ir. hoje sinto-me a deixar ir um bocado. não me apetece levantar da cama, quero escuro até estar escuro de novo. quero silêncio só na minha companhia. não quero ninguém por perto. até quem mais queria parece que não quer que eu queira. parece um jogo que não sei se consigo e quero jogar. (quero-o tanto de forma tão simples e natural que isto me faz sentir que preciso mais de mim do que ele de mim)
não sei para que lado me virar. sei que isto não está certo, mas como hei-de meter de volta à ordem? se é que alguma vez teve ordem (não lembro de ser diferente).
é como dar constantemente um passo em frente para voltar 20 atrás.
é uma sensação tão estranha que não consigo distinguir se dói, se destrói ou se é só uma desilusão tão grande que se torna um modo de vida. na minha cabeça não, mas de que é que serve termos uma cabeça mais ou menos limpa se estamos no meio de gente suja, doente e doentia? de que vale ter toda a força do mundo se nos estão constantemente a puxar para baixo? se nos cortam as asas porque a nossa felicidade não pode ser maior do que a deles.
quando mais me senti desamparada agarrei-me a ele. talvez tenha agarrado demais, tenha dependido demasiado. depois ele largou-me e eu forcei-me a fazer tudo sozinha de novo. agora aparece de novo sem me fazer perceber se quer ou não, se gosta ou não, se me apoia ou não. tem momentos que me agarro, que procuro o cheiro, que volto a segurar-me numa ideia longínqua de Um dia vai dar certo; Um dia vai correr tudo bem; Um dia eu sei o que é ser feliz; Um dia eu vejo-me livre disto tudo; Um dia eu vejo-me livre do que me faz mal e puxa para baixo.
Gosto de sonhar. Mas esses sonhos não servem de nada. Não me posso voltar a agarrar a eles. Eles não vão valer de nada quando ele me voltar a dizer que, afinal, não quer estar comigo. quando perceber que, afinal, foi um erro, foi só uma descaída. afinal ele quer mesmo estar sem mim, quer mesmo ser feliz sozinho ou com alguém diferente de mim. Não sei o que pensar. Não sei o que fazer com o que sinto. Preciso de escapes, de formas de me afastar do que me faz mal. Preciso de mudar de ares, terras, roupas, quartos e lençóis de cama.
Por que é que é tão difícil? não me venham com a treta do Se fosse para ser fácil não tinha piada. Tinha, tinha sim e muita. muito mais do que tenho tido. não faz mal ser um bocadinho difícil, mas é fodido parecer impossível.