eu queria escrever tudo o que me vai na cabeça, mas seria preciso tempo, coração aberto e paciência.
gostava de poder arrancar o coração, escolher as partes feias e que doem, atirar para o lixo e voltar a metê-lo no sítio.
gostava de não ser tão ansiosa quanto a quase tudo na vida. penso demasiado.
conheço-o melhor do que pensa. mais do que, se calhar, gostava. menos do que devia, depois de tanto tempo.
gostava de lhe poder dizer que sou como ele em muitas coisas que passou a achar que sou o oposto.
gostava de lhe poder e conseguir dizer que percebo mais do que acha - que pode falar comigo abertamente como fala com outras pessoas que nunca viu.
tenho feelings e sei que são poucos os que falham.
não queria vir a saber ou a ver de que algo que temo agora - e é tratado como um exagero! - se venha a revelar como o início de um futuro se calhar não assim tão distante.
eu não chego lá. não porque não queira ou não ache que consiga, mas porque não quer.
desistiu.
aos seus olhos mudei para o oposto, quando, no fundo, não só não mudei o principal, como (acho que) melhorei com o passar do tempo.
demasiadas pontas soltas. demasiadas dúvidas. demasiados momentos negros sem comunicação ou até maturidade.
eventualmente aceito que É a vida. que são precisos estes erros para, mais tarde, vir a ser melhor.
que não vou (de novo) virar coração de pedra e com um gosto pela solidão. prefiro pensar que não me vou deixar abater nem derrubar por isto de novo. que tudo passa. que tudo se renova, de uma forma ou de outra.
não quero sucumbir aos meus cacos e às minhas feridas - sinto que são tantas que não sei por onde começar a limpar.
sei que tenho beleza e valor. sei que tenho amor, vontade, imaginação e persistência para algo novo, capaz e saudável. sei que teve o seu tempo, a sua forma, intensidade e duração, mas que, mais tarde, será só experiência. não consigo sentir nem pensar em nada disto de forma leve, mas sei que corações partidos toda a gente supera. não quero tornar-me numa pessoa pesada, perdida no peso que se põe em cima e com medo de voltar a amar e confiar.
sei que tudo o que sinto é demasiado grande para caber aqui e em palavras e, por isso, isto tudo é só um escape momentâneo - aquilo que os dedos conseguem apanhar dos meus pensamentos a mil à hora.
talvez a melhor forma de superar é aceitar e não lutar contra. já dei alguns passos, não posso desistir nem parar. já voltei atrás, já voltei a acreditar, já quis tentar de novo, já me perdi de novo no que pensava ser como certo.
vai haver - se é que já não há - quem ache que também eu sou um ser humano bonito. que tenho a minha beleza e que ela é especial. que tenho mais valor do que acredito. que sou mais forte do que penso. que sou melhor do que acho, por querer sempre mais e melhor. vai haver quem me ponha os pés na terra - sou uma sonhadora com muita imaginação - e que sonhe comigo, que seja louco comigo. que pare de vez em quando o seu mundo para Ser comigo.
sei que vai haver alguém de novo que me faça acreditar e sonhar a dois, fazer planos a duplicar, amar a dois. como devia ser. como ainda quero, mas não posso. como ainda não desisti, mas tenho que. (tudo é uma questão de persistência, certo? o coração é um músculo, precisa de exercício como os outros.)
sei que escrevo isto tudo como forma de me acalmar, de me obrigar a ser racional e a aceitar que a vida são ciclos e que há momentos que é preciso quebrar uns para deixar começar outros.
sei que sou péssima a aceitar fins, seja de que tipo forem. fico ansiosa pelo fim para saber como é, mas tenho que deixar o meu lado racional ganhar. tudo demora o seu tempo, tudo dói na forma que tem que doer, tudo se parte na forma que tem de ser e tudo se renova na forma que mais trabalhamos para renovar. com persistência, paciência, amor-próprio e tempo.
não posso querer ir à frente do tempo. não posso mastigar mais do que trinco. tenho que aprender a lidar com o outro lado que diz que não sei viver sem fogo, sem ansiedade, sem o constante desafio de me desafiar.
por uns tempos pensei que fosse falta de amor-próprio, que eu não era suficiente, que o meu amor não chegava, não era interessante ou motivador. que era mais confuso do que esclarecedor. que a minha ansiedade derrubava mais do que construía. sei que isto tudo aconteceu na sua dose, mas também sei que foi em menor dose do que acreditei até agora. agora sei que posso tirar muito peso de cima de mim - tentei tudo, amei tudo (demais), desculpei, aceitei e esqueci da melhor forma. que não havia nada que pudesse ter feito de outra forma, mesmo que hoje veja que podia ter sido melhor. mas que hoje sou melhor e que sei que, mesmo com erro, não consigo mais.
já toquei o doentio, já procurei o que sabia que, ao encontrar, não ia gostar. já quis saber o que não tinha explicação nem desculpa. já pedi explicações de coisas que só a falta de carácter explica. e depois disso fix promessas a mim mesma. mordi a língua quando me voltei a apaixonar e prometeram-me que isso não ia mudar, que o objectivo era fazer-me feliz. já quebrei demasiadas promessas a mim mesma. já desculpei o que antes achei inadmissível; já pus de lado o que antes tinha como prioridade.
dói. e dói pra caralho. dói tanto que nem consigo chorar. e se chorar é porque o cansaço me ganhou a todos os níveis. não queria ver a minha vida sem ele, mas começo-me a sentir obrigada a admitir que cada vez mais me apercebo que não faz assim tanta diferença. talvez seja só o choque da desilusão. talvez seja só a ressaca de algo que sei que é tóxico. talvez seja a dor de um coração partido, por alguém que me fez acreditar que éramos feitos um para o outro. mas não somos. somos feitos de carne e a carne é fraca. a carne erra e a carne apodrece.
sinto-me tão confusa que consigo arranjar motivos para desistir e outros tantos para não deixar de lutar. não quero depender mais de nenhuma decisão que não seja minha.
custa, mas eu obrigo-me. custa, mas eu aceito. custa, mas eu ando em frente. sou mais persistente e forte do que faço crer, até mesmo a mim própria.
eu ainda tenho muito por (me) descobrir. ainda tenho muito que vou deixar de ser para ser algo novo. espero tornar-me melhor, principalmente comigo. espero tornar-me mais racional, sensata e leve com o que sou. espero cuidar-me melhor, afinal de contas tenho que deixar de parar o meu mundo para ser o mais flexível que dá para um bem a dois. já não tenho que fazer isso nem ser assim. eu aprendo a lidar com a dor, até com algum rancor. não sou hipócrita de desejar o melhor e aceitar de ânimo leve. mas acredito que aprendo, de novo, a deixar passar. eu devia relembrar-me que já passei pior, mesmo que pareça que o pior ainda não passou por parecer sempre tão recente.
devia relembrar-me melhor de mim. de olhar à minha volta e absorver naturalmente a vida das vidas que me acompanham da forma que podem.
já pensei que, por ser ansiosa, deixava passar tudo ao lado. já achei que, por ser assim, não vivia as coisas no presente. neste momento sinto que, por viver e sentir tanto, é que me sinto ansiosa. e isso tem momentos que não é assim tão mau quanto pode parecer. é desse caos que nasce o meu tipo de ordem. o que tenho a trabalhar é aceitar que preciso de não me deixar absorver pelo medo de não ser capaz, de não conseguir. com tanto medo de perder alguma coisa e às vezes congelo e não consigo abstrair-me disso. isso sim, é o problema. mas com calma, certo? um dia de cada vez.
o cansaço fala, é preciso descansar a cabeça, as pernas e o coração. a dor não vai embora tão cedo, mas ao menos que a cabeça fique mais fresca para lidar melhor com isso.
(tenho saudades.)
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