31/03/14

altos e baixos

gostava que os únicos altos e baixos que tivesse fossem só relacionados com sapatos.
estes são só estranhos, ainda que consiga ver neles o potencial e a beleza de uma mudança e crescimento.
há que ter o tempo de dor e luto, bem sei, mas há que saber também aproveitar e sorrir quando é um bom dia.
quando há quem nos faça sentir úteis, valorizados, importantes. que há quem espere por nós, pare o seu mundo por nós, nem que por poucos minutos. é bom saber que estão lá. aqui.
às vezes gostava - não sempre, porque gosto do meu lado negro - de ser uma pessoa que não se perde em pensamentos sobre o depois, os medos, as frustrações e o que fazer com os fantasmas de tudo; às vezes meus e de outras pessoas.
eu acredito que melhor virá (muitas vezes dependendo mais de nós do que outra coisa), que é tudo uma experiência e é isto que se leva da vida; que é importante não nos deixarmos derrotar pelos derrotistas, mas acima de tudo, não sermos derrotistas nem de ninguém, muito menos, deixar-nos derrotar por nós próprios. o importante é, mais do que nos encontrarmos, não nos perdermos por meio das lutas e demónios interiores. sei disto desde nova, mas nem sempre aquilo que se pensa é aquilo que se pratica e, no fim, o que importa é o que se faz e deixa feito. é isso que nos define.
é por isso que tenho vindo a pensar que, no meio de tudo, não quero ser feita disto - desta tristeza de coração partido, da desilusão que as pessoas nos deixam, mais do que quando nos deixam porque a sua vida não bate certo com a nossa. ou porque o nosso coração já não se agarra um ao outro.
é triste o amor acabar, se desgastar, ou até virar ódio. é triste que se magoe e saia magoado depois de um período de entrega. é triste que o coração saia derrotado. é triste que haja outra pessoa para alguém que nos foi tudo e que essa pessoa lhe seja tudo aquilo que até podemos ter sido, mas que os olhos mudam com o tempo.
não quero ser feita disto por muito mais tempo. sei que faz parte, que até demora, que é importante. mas o importante é diferente do essencial e eu não quero alimentar-me disto.
sei que sou mais e melhor e sei que, eventualmente, serei capaz de viver somente disso e para isso de novo. sei que não vai importar se há quem o reconheça ou não, desde que já não seja importante ter a aprovação da pessoa por quem trocávamos o mundo inteiro.
sou exagerada, apaixonada por pouco mas com muito de mim, sou romântica com a minha dose de medo, pessimismo e até desconfiança. sei que sou mais do que fui e sei que serei mais do que sou agora. sei que são clichés, mas há clichés que são verdade.
sei que estou fraca de coração, mas não perdi a força mental.
há dias que são isso mesmo, bebidas energéticas para a mente, mesmo que o coração aproveite de sorriso tímido.
faço o esforço de me abstrair de certas ideias, planos e memórias. faço esforço para não tirar conclusões de espaços vazios, porque a realidade é o que importa e essa ficou cheia de nadas, cobardias e desistências. não quero agarrar-me a imaginações e, mais uma vez, esperar que, depois de tudo, ainda seja desta que tudo se recomponha. eu ainda penso na saudade, nas palavras, nas cartas e nas fotografias. ainda penso em todas as coisas que prefiro nem descrever para não acordar o meu cérebro. ainda penso em muita coisa, sim, mas se a força de fora me obrigou a guardar isto cá dentro sozinha, só posso esperar que isto saia do organismo aos poucos.
perco-me no que penso, mas é nisso que me vou encontrando.
fechei mais uma pequena janela ao dar um passo em frente e materializar as minhas forças e decisões.
fico orgulhosa de mim e isso deixa-me livre.
(queria estar presa no coração dele.)





29/03/14

com o tempo

pensava que,
com o tempo, tudo era suposto ficar melhor.
mais leve, mais esclarecido, mais tranquilo e decidido.
com o tempo, não ficava mais fácil, mas ficava menos difícil.
que as dores saravam, os pesos diminuíam, as dúvidas desapareciam, as insónias acabavam.
com o tempo,
as ansiedades tornavam-se forças, os medos seriam alvos a abater e a impaciência virava objectivos a cumprir com mais certeza.
que a fúria, a raiva e a desilusão seriam, com o tempo, aceites e provas de que as pessoas nos magoam e que devemos aceitar que, aquilo que um dia é a razão da nossa felicidade, no outro vira pó.
passou quase um mês e um mês parece uma vida.
há tempo para tudo e todos menos para aquilo que, um dia, foi nosso. agora parece ser só meu. 
sem conversa, sem ser óbvio (não é óbvio!, não pode ser!), muito menos maduro e responsável. mas assim?
com o tempo a andar e sem trazer respostas, certezas ou forças. 
não é como se eu parasse ou estivesse parada à espera que elas caiam em cima de mim, mas, com o tempo, não era suposto que, com o pensamento, vivências, experiências e distracções, ou até mesmo com medos e ansiedades!, já houvesse uma resposta e uma justificação melhores do que só meia dúzia de frases feitas? que não merece, que sou melhor do que isto, que fiz o melhor e isso devia chegar, já eu sei e está o coração cheio.
mas, como o tempo, até a dor e a desilusão deviam ter resultados mais rápidos e eficazes do que isto. 
não estou igual, não sou a mesma, não dói como quando foi novidade nem desilude como já aconteceu antes, mas então, porque é que, com o tempo, não ficou melhor? mais forte e decidido?
se, com o tempo, nada disto resulta nem funciona, dá para experimentar sem ele?

25/03/14

não é que, mas

não consigo perceber a lógica, a razão.
a crueldade, frieza e egoísmo.
não consigo perceber se é demasiado óbvio ou se isto tudo ainda serve para reparar algo já muito desgastado.
seja qual for a razão continuo a achar que merecia (mereço) uma resposta. uma explicação. o mínimo de respeito.
pode até já nem haver nada. pode até ser demasiado óbvio que acabou, mas não devia ser também óbvio que as pessoas que um dia nos foram tudo mereciam saber que já não são nada?
quão mais se pode ser egoísta e egocêntrico para se achar que só as nossas razões são importantes? que os outros - que, supostamente, eram os mais importantes! - que apanhem com as consequências daquilo que (não) fazemos, das nossas palavras ou dos nossos silêncios.
não é justo.
é uma profunda desilusão que não sei se aumenta diariamente ou se cada vez mais se dissolve na aceitação de que há, efectivamente, pessoas que não nos merecem.
gosto de ter momentos sozinha, mas não gosto de pensar e falar sozinha - quando falamos sozinhos temos sempre razão, alguém me disse.
dói que chegue ao fim, custa aceitar que algo morreu nas nossas mãos, mas até na morte merecemos um fim com dignidade.
não me custa pensar só em mim ou meter os meus planos como prioridade. não me custa viver sozinha - às vezes esquece-se que me conheceu feliz na minha solidão -, não tenho problemas em lidar com o silêncio do meu caos, dos meus sonhos, dos meus medos. não sei sempre gerir-me, mas sei amar-me na minha ansiedade. não seria a mesma sem isso.
no entanto, há uma diferença entre um fim conversado como dois adultos que partilharam a vida, o sexo e o copo de água às refeições, e o fim em que um ignora a outra pessoa e ela que se habitue à ideia à força, sem um ponto final maduro.
é duro, mas eu aprendo a superar.
mói, mas não me vai destruir.
magoa, mas eu faço o esforço mental.
mas. há sempre mas.
não consigo acreditar.
se calhar enquanto assim for não consigo andar para a frente como devia ou era suposto.
não é que espere que algo mude. não é que eu ache que tudo iria ser (de novo) diferente. não é que tenha esperanças que. não é que tenha ilusões. é somente (e é demasiado) que, depois de tudo, sejam dias e semanas sem algo que, mais do que achava merecido, se trata de respeito, que sempre achei que era o que mais havia.

24/03/14

loop da alma

se calhar preciso de levar as coisas mais a sério nuns pontos e relaxar noutros.
levar a sério o tempo e a sua escassez. a velocidade da vida e a correria das coisas que quero fazer.
de tanto ter vontade de fazer/ver/sentir/aprender tudo perco-me nos desejos de o efectivamente fazer.
ser objectiva, ter objectivos.
sentir-me eu.
ser eu.
provar-me - que estou certa, que estou errada, que posso mais.
lidar com o dia-a-dia.
soltar-me.
distrair-me.
ter calma.
paciência.
persistência.
ser objectiva no objectivo - repetição, repetição, repetição.
livrar-me das obsessões - ser livre. de mim, principalmente.
afastar-me e aproximar-me - saber o que importa, o que é importante, o que ME importa e faz bem.
preencher-me enquanto me esvazio.
aprender a fazer.
continuar a fazer o que sei.
explorar.
introspecção para saber exteriorizar.
não ter medo. arriscar. tentar. (provar-me)
dar tempo. dar-me tempo sem o perder.
aceitar sem acomodar.
lutar sem me esvaziar de forças.
fortalecer a alma e o coração.
exercitar os músculos da mente - paciência, paciência, paciência.
aprender (a aceitar) que o desamor não pode levar o amor que tenho e quero dar.
aceitar que se não dá hoje, amanhã será outro dia.
mas tentar hoje. hoje, hoje, hoje.
não ter medo.
ser objectiva, racional, coerente.
paciência, paciência, paciência (no) tempo, tempo, tempo.

19/03/14

paz, precisa-se

preciso de organização.
novidade.
novos sentidos, perspectivas, valores e razões.
algo natural, simples na estrutura e complexo no conteúdo - não sei (ser) de outra forma.
saber dizer adeus e pôr um fim é o principal para (re)começar.
quero ser capaz. quero muito. consigo (?).
como me dizer de outras formas que preciso (saber) desligar e deixar um dia de cada vez passar? abstrair e distrair. limpar e excluir, mas também renovar e adicionar. não me posso estar constantemente a subtrair, senão fico com e a ser nada.
não consigo viver o dia-a-dia a aceitar que as horas voam e me ultrapassam. que o tempo me supera e me é tão superior que o medo de o perder é maior do que o de aproveitar.
como posso lidar e (di)gerir isso?
preciso de estrutura, espinha que me mantém firme. falta-me algo e não sei ao certo o quê. sei, mas não posso depender mais de mudanças exteriores. se algo fora não muda, o melhor é eu mudar a atitude e a forma como me trato, preservo e organizo.
(certo?)

16/03/14

carne mal passada

eu queria escrever tudo o que me vai na cabeça, mas seria preciso tempo, coração aberto e paciência.
gostava de poder arrancar o coração, escolher as partes feias e que doem, atirar para o lixo e voltar a metê-lo no sítio.
gostava de não ser tão ansiosa quanto a quase tudo na vida. penso demasiado.
conheço-o melhor do que pensa. mais do que, se calhar, gostava. menos do que devia, depois de tanto tempo.
gostava de lhe poder dizer que sou como ele em muitas coisas que passou a achar que sou o oposto.
gostava de lhe poder e conseguir dizer que percebo mais do que acha - que pode falar comigo abertamente como fala com outras pessoas que nunca viu.
tenho feelings e sei que são poucos os que falham.
não queria vir a saber ou a ver de que algo que temo agora - e é tratado como um exagero! - se venha a revelar como o início de um futuro se calhar não assim tão distante.
eu não chego lá. não porque não queira ou não ache que consiga, mas porque não quer.
desistiu.
aos seus olhos mudei para o oposto, quando, no fundo, não só não mudei o principal, como (acho que) melhorei com o passar do tempo.
demasiadas pontas soltas. demasiadas dúvidas. demasiados momentos negros sem comunicação ou até maturidade.
eventualmente aceito que É a vida. que são precisos estes erros para, mais tarde, vir a ser melhor.
que não vou (de novo) virar coração de pedra e com um gosto pela solidão. prefiro pensar que não me vou deixar abater nem derrubar por isto de novo. que tudo passa. que tudo se renova, de uma forma ou de outra.
não quero sucumbir aos meus cacos e às minhas feridas - sinto que são tantas que não sei por onde começar a limpar.
sei que tenho beleza e valor. sei que tenho amor, vontade, imaginação e persistência para algo novo, capaz e saudável. sei que teve o seu tempo, a sua forma, intensidade e duração, mas que, mais tarde, será só experiência. não consigo sentir nem pensar em nada disto de forma leve, mas sei que corações partidos toda a gente supera. não quero tornar-me numa pessoa pesada, perdida no peso que se põe em cima e com medo de voltar a amar e confiar.
sei que tudo o que sinto é demasiado grande para caber aqui e em palavras e, por isso, isto tudo é só um escape momentâneo - aquilo que os dedos conseguem apanhar dos meus pensamentos a mil à hora.
talvez a melhor forma de superar é aceitar e não lutar contra. já dei alguns passos, não posso desistir nem parar. já voltei atrás, já voltei a acreditar, já quis tentar de novo, já me perdi de novo no que pensava ser como certo.
vai haver - se é que já não há - quem ache que também eu sou um ser humano bonito. que tenho a minha beleza e que ela é especial. que tenho mais valor do que acredito. que sou mais forte do que penso. que sou melhor do que acho, por querer sempre mais e melhor. vai haver quem me ponha os pés na terra - sou uma sonhadora com muita imaginação - e que sonhe comigo, que seja louco comigo. que pare de vez em quando o seu mundo para Ser comigo.
sei que vai haver alguém de novo que me faça acreditar e sonhar a dois, fazer planos a duplicar, amar a dois. como devia ser. como ainda quero, mas não posso. como ainda não desisti, mas tenho que. (tudo é uma questão de persistência, certo? o coração é um músculo, precisa de exercício como os outros.)
sei que escrevo isto tudo como forma de me acalmar, de me obrigar a ser racional e a aceitar que a vida são ciclos e que há momentos que é preciso quebrar uns para deixar começar outros.
sei que sou péssima a aceitar fins, seja de que tipo forem. fico ansiosa pelo fim para saber como é, mas tenho que deixar o meu lado racional ganhar. tudo demora o seu tempo, tudo dói na forma que tem que doer, tudo se parte na forma que tem de ser e tudo se renova na forma que mais trabalhamos para renovar. com persistência, paciência, amor-próprio e tempo.
não posso querer ir à frente do tempo. não posso mastigar mais do que trinco. tenho que aprender a lidar com o outro lado que diz que não sei viver sem fogo, sem ansiedade, sem o constante desafio de me desafiar.
por uns tempos pensei que fosse falta de amor-próprio, que eu não era suficiente, que o meu amor não chegava, não era interessante ou motivador. que era mais confuso do que esclarecedor. que a minha ansiedade derrubava mais do que construía. sei que isto tudo aconteceu na sua dose, mas também sei que foi em menor dose do que acreditei até agora. agora sei que posso tirar muito peso de cima de mim - tentei tudo, amei tudo (demais), desculpei, aceitei e esqueci da melhor forma. que não havia nada que pudesse ter feito de outra forma, mesmo que hoje veja que podia ter sido melhor. mas que hoje sou melhor e que sei que, mesmo com erro, não consigo mais.
já toquei o doentio, já procurei o que sabia que, ao encontrar, não ia gostar. já quis saber o que não tinha explicação nem desculpa. já pedi explicações de coisas que só a falta de carácter explica. e depois disso fix promessas a mim mesma. mordi a língua quando me voltei a apaixonar e prometeram-me que isso não ia mudar, que o objectivo era fazer-me feliz. já quebrei demasiadas promessas a mim mesma. já desculpei o que antes achei inadmissível; já pus de lado o que antes tinha como prioridade.
dói. e dói pra caralho. dói tanto que nem consigo chorar. e se chorar é porque o cansaço me ganhou a todos os níveis. não queria ver a minha vida sem ele, mas começo-me a sentir obrigada a admitir que cada vez mais me apercebo que não faz assim tanta diferença. talvez seja só o choque da desilusão. talvez seja só a ressaca de algo que sei que é tóxico. talvez seja a dor de um coração partido, por alguém que me fez acreditar que éramos feitos um para o outro. mas não somos. somos feitos de carne e a carne é fraca. a carne erra e a carne apodrece.
sinto-me tão confusa que consigo arranjar motivos para desistir e outros tantos para não deixar de lutar. não quero depender mais de nenhuma decisão que não seja minha.
custa, mas eu obrigo-me. custa, mas eu aceito. custa, mas eu ando em frente. sou mais persistente e forte do que faço crer, até mesmo a mim própria.
eu ainda tenho muito por (me) descobrir. ainda tenho muito que vou deixar de ser para ser algo novo. espero tornar-me melhor, principalmente comigo. espero tornar-me mais racional, sensata e leve com o que sou. espero cuidar-me melhor, afinal de contas tenho que deixar de parar o meu mundo para ser o mais flexível que dá para um bem a dois. já não tenho que fazer isso nem ser assim. eu aprendo a lidar com a dor, até com algum rancor. não sou hipócrita de desejar o melhor e aceitar de ânimo leve. mas acredito que aprendo, de novo, a deixar passar. eu devia relembrar-me que já passei pior, mesmo que pareça que o pior ainda não passou por parecer sempre tão recente.
devia relembrar-me melhor de mim. de olhar à minha volta e absorver naturalmente a vida das vidas que me acompanham da forma que podem.
já pensei que, por ser ansiosa, deixava passar tudo ao lado. já achei que, por ser assim, não vivia as coisas no presente. neste momento sinto que, por viver e sentir tanto, é que me sinto ansiosa. e isso tem momentos que não é assim tão mau quanto pode parecer. é desse caos que nasce o meu tipo de ordem. o que tenho a trabalhar é aceitar que preciso de não me deixar absorver pelo medo de não ser capaz, de não conseguir. com tanto medo de perder alguma coisa e às vezes congelo e não consigo abstrair-me disso. isso sim, é o problema. mas com calma, certo? um dia de cada vez.
o cansaço fala, é preciso descansar a cabeça, as pernas e o coração. a dor não vai embora tão cedo, mas ao menos que a cabeça fique mais fresca para lidar melhor com isso.
(tenho saudades.)