22/05/13

sentar a alma

preciso de sentar, respirar e escrever a minha alma.
não toda - não consigo -, mas o mais importante.
talvez o mais superficial.
talvez tenha que aprender a adequar a minha comunicação.
talvez a minha cabeça esteja a entrar em curto circuito e preciso de um tempo para organizar ideias.
ainda assim e para já, sinto que preciso de sentar e escrever-lhe num papel.
escrever-lhe, simplesmente.
ser eu.
por e para mim.

preciso.
tenho que - é urgente.
é doentio.
é mais do que eu sou, do que tenho sido.
é maior do que eu.
engole-me.

quanto mais preciso das palavras, mais elas me fogem.
quanto mais preciso de força, mais ela me consome.
quanto mais preciso de paz em mim, mais entro em guerra comigo.

não pode ser,
não dá,
não consigo,
não quero.

seja que caminho eu vá,
preciso de ir.
a algum lado.
(contigo)

o amor é mais do que fodido

« O amor é fodido. Hei-de acreditar sempre nisto. Onde quer que haja amor, ele acabará, mais tarde ou mais cedo, por ser fodido. (...) Por que é que fodemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem de haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo. »

Miguel Esteves Cardoso

20/05/13

talvez

não consigo perceber se o mundo parou ou passou a andar a mil à hora.
não consigo perceber se é traição ou desabafo.
não consigo entender se é atracção se é conexão intelectual/espiritual.
não consigo entender se existia isso antes entre nós - e, por isso, me faz sentir mais uma -, ou se nunca existiu e eu fui o mais próximo da idealização de liberdade.
não consigo entender se existia uma maior libertação e cumplicidade antes e se se perdeu: o dia-a-dia mata ou constrói?
não sei sequer se é suposto compreender.
se são duas almas para além da minha compreensão. se o meu coração sequer aguenta tanta cumplicidade, à vontade e abertura.
se é só um espaço de explosão ou se é a procura de uma fuga.
já perguntei, mas nunca consigo compreender.
já abri completamente a minha alma para tudo o que pudesse ser entendido e pouco me acalmou. talvez pelo contrário.
às vezes sinto-me como sabonete: quanto mais apertam, mais escorrega. no meu caso seria muito próxima de Quanto mais vejo a serem assim, menos eu consigo ser eu própria, por muitas vezes ser parecida.
começo a achar que nunca existiu tal profundidade de pensamentos entre nós. talvez a mesma língua tenha fodido tudo. tenha tirado a beleza da descoberta e troca de palavras. talvez a proximidade tenha tirado a beleza natural. o desconhecido passou a demasiado conhecido e eu sem conseguir entender, mais uma vez, se conhecer profundamente as pessoas no dia-a-dia nos mata ou constrói como pessoas.
não consigo perceber se o mundo parou em mim ou se passou a andar a mil à hora. o que sei é que o meu estômago arde, encolhe-se de tal forma que comer parece uma tortura.
parece que sou melhor do que achava. talvez.
talvez seja pior também.
talvez eu tenha perdido demasiado tempo a pensar e pouco a agir. às vezes sinto que guardei demasiado para mim e nem sempre sei explodir (há quem saiba?).
talvez eu não tenha ou esteja a orientar bem a minha dor. talvez as minhas explosões tenham efeitos muito perigosos para mim e para a minha saúde.
talvez eu não vá nunca compreender.
talvez nunca ninguém (me) compreenda verdadeiramente.
talvez sejamos, no fundo, apenas duas almas mortas à deriva, à espera que alguém nos salve. ou que nos faça salvar-nos a nós próprios.
talvez a sua alma seja mais profunda do que eu consigo descer. talvez eu tenha descido demais e mostrado demais de mim. talvez não tenha sido o suficiente.
nunca vou compreender. ou talvez o diálogo aberto - depois de todo o drama do dia-a-dia - seja uma linha ténue entre entendimento ou destruição assistida.
de qualquer das formas sinto que preciso ou de voltar a tê-lo e senti-lo ou de o deixar de vez.