não consigo perceber se o mundo parou ou passou a andar a mil à hora.
não consigo perceber se é traição ou desabafo.
não consigo entender se é atracção se é conexão intelectual/espiritual.
não consigo entender se existia isso antes entre nós - e, por isso, me faz sentir mais uma -, ou se nunca existiu e eu fui o mais próximo da idealização de liberdade.
não consigo entender se existia uma maior libertação e cumplicidade antes e se se perdeu: o dia-a-dia mata ou constrói?
não sei sequer se é suposto compreender.
se são duas almas para além da minha compreensão. se o meu coração sequer aguenta tanta cumplicidade, à vontade e abertura.
se é só um espaço de explosão ou se é a procura de uma fuga.
já perguntei, mas nunca consigo compreender.
já abri completamente a minha alma para tudo o que pudesse ser entendido e pouco me acalmou. talvez pelo contrário.
às vezes sinto-me como sabonete: quanto mais apertam, mais escorrega. no meu caso seria muito próxima de Quanto mais vejo a serem assim, menos eu consigo ser eu própria, por muitas vezes ser parecida.
começo a achar que nunca existiu tal profundidade de pensamentos entre nós. talvez a mesma língua tenha fodido tudo. tenha tirado a beleza da descoberta e troca de palavras. talvez a proximidade tenha tirado a beleza natural. o desconhecido passou a demasiado conhecido e eu sem conseguir entender, mais uma vez, se conhecer profundamente as pessoas no dia-a-dia nos mata ou constrói como pessoas.
não consigo perceber se o mundo parou em mim ou se passou a andar a mil à hora. o que sei é que o meu estômago arde, encolhe-se de tal forma que comer parece uma tortura.
parece que sou melhor do que achava. talvez.
talvez seja pior também.
talvez eu tenha perdido demasiado tempo a pensar e pouco a agir. às vezes sinto que guardei demasiado para mim e nem sempre sei explodir (há quem saiba?).
talvez eu não tenha ou esteja a orientar bem a minha dor. talvez as minhas explosões tenham efeitos muito perigosos para mim e para a minha saúde.
talvez eu não vá nunca compreender.
talvez nunca ninguém (me) compreenda verdadeiramente.
talvez sejamos, no fundo, apenas duas almas mortas à deriva, à espera que alguém nos salve. ou que nos faça salvar-nos a nós próprios.
talvez a sua alma seja mais profunda do que eu consigo descer. talvez eu tenha descido demais e mostrado demais de mim. talvez não tenha sido o suficiente.
nunca vou compreender. ou talvez o diálogo aberto - depois de todo o drama do dia-a-dia - seja uma linha ténue entre entendimento ou destruição assistida.
de qualquer das formas sinto que preciso ou de voltar a tê-lo e senti-lo ou de o deixar de vez.